Ao longo das várias décadas de vida sempre acompanhei processos eleitorais, deles sendo parte ou não. Interagi em eleições como radialista, mesário, membro de partido, candidato, professor de ciência política. Ou seja, parte ou observador privilegiado, sempre estive interessado nas campanhas, eleições e escrutínios.
Este ano teremos eleição geral cercada por clima de incertezas e indagações. Há alta dose de descrédito com a política e seus agentes, instituições, partidos e personalidades. Aparentemente, o clima estaria propício a enorme renovação dos quadros legislativos. Todavia, circunstâncias parecem indicar o contrário: regras e meios favorecem os atuais detentores de mandato nas eleições parlamentares.
Por duas vezes neste espaço, escrevi ter esperança que o financiamento público de campanhas oportunizasse a um candidato honesto fazer campanha competitiva sem se ver forçado a recorrer a fontes ou formas não corretas de arrecadação financeira, ponto de partida para boa parte dos desvios de conduta na vida pública. A atual fórmula talvez permita isso em algumas disputas majoritárias para presidente e governador, mas, tendo deixado ao livre arbítrio das direções partidárias a distribuição interna dos recursos, permitiu a concentração destes em poucos candidatos aos parlamentos federal e estadual, exatamente os atuais detentores de mandatos. Ou seja, torna-se óbice à renovação entre deputados federais e estaduais, somando-se a campanhas menores, grande número de candidatos e partidos e outros fatores que dificultam a eleição de personagens recém-chegados à disputa.
Tenho enorme curiosidade de cidadão e estudioso sobre o que acontecerá. De um lado, o anseio popular por mudança e renovação dos quadros legislativos, especialmente a Câmara dos Deputados. De outro, regras e campanhas que favorecem reeleição dos atuais parlamentares. Os analistas, em maioria, apostam num baixo índice de renovação nas casas legislativas. Penso que esta será a incógnita da eleição. Nunca foi tão forte o contraste entre o sentimento de renovação e as condições favoráveis à elegibilidade dos atuais: o que vencerá?
O tempo de campanha é exíguo. Mas acredito que estamos sujeitos a surpreendentes reações de opinião pública nas próximas semanas. Imprensa e academia têm dificuldades em prever tais movimentos. As pesquisas muitas vezes já foram surpreendidas por rápidas e significativas alterações nas tendências. Um pleito sob condições psicossociais tão atípicas e fortes como as atuais, será sempre imprevisível.
Espero que os eleitores manifestem sua soberana vontade e indiquem um caminho para o País, acertando na escolha não somente de Presidente ou Governador - campanhas que sempre chamam mais a atenção e terminam apaixonando as pessoas - mas, também nos órgãos colegiados do Poder Legislativo, isto é, senadores, deputados federais e deputados estaduais, tão importantes como os executivos governantes.